Natal está imersa
em um universo de dunas e lagos
à beira mar
(em um terra que já foi do mar)
Os melhores lugares da cidade
vivem através dessa verdade
Os piores lugares ainda não despertaram
para onde estão
Poesias são territórios para desvendar
Natal está imersa
em um universo de dunas e lagos
à beira mar
(em um terra que já foi do mar)
Os melhores lugares da cidade
vivem através dessa verdade
Os piores lugares ainda não despertaram
para onde estão
Os sonhos masculinos criaram
bastante dor e confusão pelo mundo
O mito do pai héroi dá lugar
às estranhas sensações e temores
de estar nos lugares errados
nas horas erradas e distante
de um corpo natural e vibrante
que agora aterriza no tempo
É hora de voltar das estrelas
para podar a árvore da glória eterna
Simplesmente é hora
de voltar ao que se é em movimento
Ao mundo com sua gravidade e orbitas
habituais e a uma distância saudável
da excelência dos mitos
Natal é para sonhar. "As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender". Paulinho da Viola dá o tom nesse domindo chuvoso nesta Natal fundada no ano de 1599. O cenário perfeito para desaprender e reaprender quanto vale a pena sonhar mais uma vez. Apreender sem precisar copiar o vizinho, o cara rico do lado de lá.
Natal é para sonhar na imensa paisagem lunar, de dunas sem fim, que margeiam um oceano que vai dar sei lá aonde na Africa. É espaço, e tempo, demais para recriar outra cidade, outro pessoa, outro lugar desde o lado de dentro.
É paisagem onírica para libertar todos os saberes e fazeres para estar plenamente com os outros. Repartir o mundo com quem quer tudo aquilo, que também seja dos outros. Natal é para sonhar e celebrar, e sonhar novamente. Local ideal para fundar uma nova independência onde a construção do próprio sonho seja a matéria prima, a argamassa do sonho dos outros.
Para desentrañar el nuevo mundo
Borges tuvo que entender el mundo
El mundo reducido a Europa
El mundo más allá de la reducción
Se propuso vivir cien mil vidas en una
Cubrirse de la armadura de las palabras
las más viejas, las más raras
Para esculpir su lengua española
hubiera que sacar todo lo que no sea ella
para que aparezca como si fuese nueva
Recorrer las regiones más inhóspitas
buscar el error para encontrarse más allá
de la jornada y la búsqueda
Descansar al fin
en el silencio de las calles
en la madrugada de Buenos Aires
Refazer fábulas
desafiar imaginações vencidas
incrustar novas pedras coloridas
no velho coral do tempo
eis a tarefa de poeta
A história do patinho feio é feia
não pelo intruso e desajeitado cisne
na casa dos patos com pedigree
mas pela negação do conflito inescapável
com a família de nascença
Os árabes acreditam que no porto
de chegada encontra-se a primeira lição
É preciso aprendê-la para seguir
O patinho nem é pato nem cisne
talvez se transforme em gato
de sua jornada
Se com coragem viver
de rejeição em rejeição
de atrito em atrito
encontrará a própria expressão
Do porto inicial
arriscar-se entre as montanhas
aprofundar-se no interior
além da costa
onde a família ainda espera
A materia da carne e sonho
coloca-se ao atrito da vida
Eis a invenção do fogo
Passado a limpo
é verdade do Olímpo
Noves fora o futuro
Aquilo que fica no corpo
quando a eternidade vira espuma
Aquilo que fica no mundo
quando o tempo vira história
Tempo curvado no espaço
Espaço passado
incomensurável e ausente
Espaço fora e dentro
Espaço que pega carona
Dá palpites e acena com as mãos
O passado é um endereço
para transver o presente
de um deja-vu no futuro
Diria Spinoza no século 17
O passado é o que se queima
do presente
como o rabo do foguete
feito de óleo queimado e quente
Mas pode ser encontrado no futuro
fantasiado de profeta
Passado a limpo
Libertar a eternidade
do presente
de um futuro do passado
Viver o vazio encorpado
de roupa nova
sem os adereços da memória
Para a pequena bailarina
o palco é o reino dos sonhos
desejos sem nódoa
onde bailarina aprende
sem pausa
incorpora o tempo nos músculos
na harmonia com a música e os ruídos
Ocupa o espaço entre o real e o imaginário
aterrisa no presente
salta sobre o espaço
Alistada para as batalhas
seu ser ainda mais treinado
não é objeto que se queira
não é coisa que se venda
É barco da consciência
É teatro do mundo
Ela desencontra do bem e do mal
do romantismo que reduz
ao realismo fantástico que ilumina
personagens e fantasias
que transmutam a tristeza
em espetáculo
para que todos aprendam
a ser livres
mesmo que doa
se há beleza há jeito
A bailarina caminha
em alegre paço
em direção a si mesma
Cuidado ao pedir
á maior das divindades do planeta
o Deus do Universo
desejos impensados
quereres desnecessários
Assim como a mentira
encontra a verdade
O pedido encontra
o aprendizado
logo na curva da necessidade
Ter o que não se precisa
cria a lição pelo avesso
Crianças pedem e são perdoadas
os desejos se tornam professores
Adultos pedem sem sabedoria
recebem dificuldades
Ah! bruta flor da necessidade
Prima irmã da liberdade
O passado insiste em estar presente
O futuro insiste em estar presente
O presente insistemente diz:
"Fiado só amanhã"
O próximo momento não chega nunca
esse aconteceu ainda agora
não vai embora
Esse trem chamado presente
não tem passageiros
só vultos e sombras
fantasmas de um tempo assombrado
O poeta é o passageiro dessa agonia
Se vive insistentemente
essa eternidade sem fronteiras
precisa inventar um tempo com
estrelas, astros, elipticas órbitas
para dizer que aqui começou
ali aquilo finalmente findou
e tudo fazia sentido:
"Fiado só amanhã"
Aonde está a bordo o azul no mar?
A resposta flutua no arco-iris
A cor violeta
está quase lá
no horizonte do olhar
Natal está imersa em um universo de dunas e lagos à beira mar (em um terra que já foi do mar) Os melhores lugares da cidade vivem através...