O Anu Preto pousou
em um verso
para ver o mar
Admirado engoliu o mar
as ondas e as nuvens também
Evaporou-se
alegre de tanto azul
Poesias são territórios para desvendar
O Anu Preto pousou
em um verso
para ver o mar
Admirado engoliu o mar
as ondas e as nuvens também
Evaporou-se
alegre de tanto azul
Quando as divindades criaram
a humanidade e a natureza
queriam observadores de segunda ordem
para confirmarem a resiliência do universo criado
Ali no jardim do paraíso
um laboratório de testes fez
cada humano perceber-se
como um universo aberto
em constante troca com o mundo
A consciência humana
forjou-se estocástica, adaptativa e resiliente
e apesar das reclamações iniciais
sempre adaptável e agradecida
as intemperes e milagres
(incluindo as tragédias bíblicas)
enviadas pelos deuses
Nem dentro nem fora
Sem ponto fraco
Ou forte
Sem miolo nem casca
O olho vê a si mesmo
Na penumbra da existência
Dar a vida ao que vive
Abrir alas aos céus
Aceitar o sonho
Adentrar na floresta
Não temer o tigre aqui dentro
Próximo e distante perdem o foco
Novas palavras nascem
Para dizer o que não se diz
O que é tão lá e aqui
Ao mesmo tempo e ontem
O amanhã é a outra face da morte
A moeda da vida paga para ver
Não é preciso fazer o que faz
Nem ocupar o que não existe
Quem pergunta
com faca abre o mundo
Faz o corte e separa
o real e seu entendimento
Quem prefere o lado certo?
Quem fica com o pato?
A pergunta e a resposta
são irmãs siamesas separadas
depois do parto
A faca tem a imprecisão do desejo
a vontade do percebido
Perguntar ofende
pois escolhe e afasta
tudo que não rimar com resposta
Perguntar está no fio da navalha
É faca de ponta que desponta
de um mar de incertezas
Certezas a gente pesca com sorte
Em rede, pega-se de tudo
Periga ficar do lado de fora
Será que as formiguinhas sentem
o valor da colaboração entre elas?
Movidas por puro instinto
ou, sonham com uma alma individual?
O trabalho mesmo solitário
constroi um conforto para todos
Proteção, alimento, abrigo
a lista continua
Um formigueiro e seus especialistas
entraria em colapso
se o operário quisesse imprescionar
o soldado que buscaria por sua vez
ser como a rainha que desistiria de parir
e sairia por ai
Os humanos aprenderiam muito
ao observar esse cosmos em miniatura
de um formigueiro e seus afetos
Formiga não dá "like"
Dois corpos não ocupam
O mesmo lugar no espaço
Há de encontrar brecha
Mecânica ou quântica
Para caber tanto desejo
Se você usa os pés
Para palmilhar o mundo
Com as palmas ao chão
Eu desvendo o real
A capoeira ensina
Navegar do lado de dentro
Desse mundo enviesado
Plantando bananeira
Para entender o por que
De tanta liberdade cerceada
De pernas para o ar
Venha ver
Todos tem espaço-tempo
No jogo da vida
República de Estudantes:
como um grupo de estudantes
mudou a forma de fazer política no Brasil
Prefácio
Revisitando as entrelinhas do excelente livro de Marcelo Rubens Paiva "Feliz Ano Velho" é possível perceber um embate profundo na história política brasileira na década de 80 do século passado. Que democracia queriamos? Se somos uma democracia, somos um democracia de que tipo? Em " Feliz Ano Velho", um líder de um centro acadêmico da Universidade Estadual de Campinas, e simpatizante do recém criado Partido dos Trabalhadores em 1980, sofre uma acidente que retira o movimento de suas pernas e braços.
Começa ai sua saga para reaver os movimentos do corpo e da história. Filho do deputado federal Carlos Paiva, assassinado pela ditadura militar, Marcelo reconstrói essa trajetória política, e a sua trajetória para ajudar a reconstruir também as linhas de entendimento da história dos estudantes da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Diante da tetraplégia, ele irá vivenciar a exclusão de diversas formas em um pais de cultura patriarcal e escravocrata, cujo o direito das minorias é ainda ignorado.
O livro mostra com linguagem cinematográfica esse desenrolar de fatos pessoais e coletivos onde o autor busca forças para repensar a vida, e a política como ferramenta de construção dessa vida. Seu livro é um chamado a reconstrução da capacidade de sonhar no pós-ditadura. A Unicamp era o palco ideal para essa reconstrução, a então conhecida "Universidade de Esquerda". Na sua formação e construção, que se inicia em 1966, recebeu cientistas e professores exilados em seu próprio pais, e aos cuidados do reitor interventor federal Zeferino Vaz, que dá nome á cidade universitária.
A leitura de "Feliz Ano Velho" me arrancou de Brasília, e me arremessou no distrito de Barão Geraldo, Campinas, estado de São Paulo onde se localiza o campus da Universidade Estadual de Campinas. Mas eu não cheguei lá sozinho. Uma geração de jovens veio comigo, apenas 4 anos após a abertura política em 1986. A gente queria "tudo ao mesmo tempo agora", queria ser feliz, e construir um novo pais a partir de um campus universitário muito especial.
Queriamos um Brasil que dividisse com seus filhos e filhas o alimento, a natureza, o conhecimento, e a capacidade de sonhar, queriamos uma nova república, uma república em que pudessemos experimentar e construir juntos: uma república de estudantes.
Natal em desconstrução
Natal em liquidação
Natal sem maquiagem
Natal sem reforma
Abaixo a construção histórica
As raízes locais vão aparecer
antes soterradas sob caricaturas
de elites incrustradas
Machado de Assis já avisava
que os talentos do povo
são sinceros e forjados
a ferro, fogo e areia
Natal parece um canteiro
de demolições abandonadas
de carcomidas estruturas
ainda operantes mas ultrapassadas
O florescer do novo
depende destes ventos
de atentas vontades
de alegrias potiguares
I
Seat eleven, fasten your belts
The five senses on board:
Off I go, wide world
On the not-always-bright journey
For freedom’s sake
Kisses, father. Kisses, mother
The bus wheels long to move
Brasília’s one great theater
But I want to meet the writers
To watch the artists rehearse
II
Who’s directing this play?
I’m ready for the expedition
So many other Brazils await
My tender gaze.
In our Portuguese fit so many
Portugueses, and tongues
Indigenous, Black, and mixed
I go south through the Americas,
Tracing our ancestors’ steps
No one will tell me “yes”
III
Then I’ll be the one to say “no”
When anyone steps on another’s dream
The Republic of Students was founded
Let the news run round the world
Till no doubt’s left
Begin the countdown:
The small world of naïve ideas
Born of serious play will draw
Verses across the lands of cities
Hungry for our song
IV
And because it was impossible
Those old young madmen went
to see through the truth
Even if just for a heartbeat
Even if from high walls
We seem so small
It’s still possible to plant
The seed of a dream
Hidden amid the noise
Unnoticed, childlike and follow it
As it grows
V
Even from afar giving
Shade and sweet fruit
Still the weeping of undoing
The regrowth beyond
Nothing stronger than will than need
which insistently
must find its natural bed again
Meanwhile, I’ll unlearn
that America
of movies and freedom myths
VI
Will I recognize its deep root?
What magic portions does it brew?
America, what kind of woman are you
who looks at me with hypnotic eyes?
I have no money
Only quick hands and rhythm armed feet
What empire’s this, made of dollars?
My body’s made of coffee, berimbau, and poems of
Leminski, Quintana, and Manoel de Barros
VII
Tim-Tom-Tim
“How are you doing?”
“Has it going?”
My northern brother smiles
Gold tooth, tearful eyes
America, woman of long arms
Take me to see the world
Now I can spell the Anglo-Saxon tongue
Let me see what you’ve planted
There in Africa, here in South America.
VIII
Further east, between Cairo
and Jerusalem—where even saints doubt—
What have you sown, America?
Crossing the high plains
Lake Titicaca is drying up
Too much carbon in the air?
We’re suffocating, America.
Car Culture’s electric now!
Remenber how beautiful is South America
of Andes, of Jungle, of Cerrado plains
IX
Here’s the New World
Where every people comes
with their tools and tricks
I invite you for a Café Tortoni
Then Lamas, in Flamengo
At night we’ll meet in Brasília, at Beirute
There’s salsa tonight in Bogotá
and later Ayahuasca to see más allá
Why did Jorge Luis Borges return to Europe?
There’s still so much to learn of what is
X
To err through what isn’t
digging behind the blue tiles
of Lisbon, Sintra, Tomar
to find traces of Tartessos
In Lixbona, in Ulixibona
And from time immemorial
Recognize the ancestry of the new
Return to the homeland
With so much to say
so much to tell of the world
Yet find no eager ears
XI
The dry-pepper gaze
Of a friend, dream companion
Return with transformed eyes
to see what must be changed
Ostracism, a bitter seed
Grew in my yard
I’ll water it to florish solitude
Then I’ll take it wherever I go
There’s still so much to (trans)form—
A flight of blue birds
XII
They take me to Copacabana
Where the Tupinambá people once taught me
To replant joy
Between sea and mountain
on that narrow strip of land
to plant smiles and celebrate,
to drink the cool water of hope,
that tastes like beachside mate with lemon,
so green, almost blue,
like the waters of Ipanema.
XIII
Shall we return to the heart of Pachamama,
to read the world’s future in the Sacred Valley?
One day all will praise again
the Mother of these lands—
from the Sacred Valley to the headwaters of the Amazon,
resting in Machu Picchu,
the Emperor’s summer rooms.
To one side, the snow-crowned grandparents of the Andes;
to the other, the vast Amazon calling.
When will America awake?
XIV
Time to go home.
But where is home now?
So many doors opened and closed,
I no longer know where to land.
When every corner of the world is home,
I no longer know my father or my mother.
Our common dreams are lost.
I’ve become the prodigal son
returning to a familiar emptiness.
XV
Gather the shards, the rags, the marks—
I seek in myself who’s no longer there.
Return empty-handed
to set hands to work,
where silences illuminate.
Did Brasília stop in time?
Or was it the metamorphosis in me
that quickened my courage
to say what’s out of place?
“How dare you say that,
little traveler?”
XVI
Who do you think you are?
An Edgar Morin, copper-faced,
burnt by the tropical sun?
Philosopher or madman—
small miracles visit me.
I return to the Amazon
with trained eyes, soaked in poetry,
to trans-see the forest’s mysteries.
Little by little I became fluent
in what can be read
in nature’s silence.
XVII
I walk through Brasília like the last
survivor of a dreamed South America.
I’ve glimpsed the New World
and walk among its wreckage.
I work here and there—
a researcher of traces and remains,
wrecks and rubble no one wants.
I dare to be a specialist in error,
in crisis, in disconnection, in lack—
until, in the middle of nothing, I find—
XVIII
—the loose end of the tangled thread.
Maybe a test of nine would’ve solved it—
ojalá!—our lack of dreams.
I think I have a knack
for crafting futures,
for sketching better worlds—
if only I could arrange it with the Russians.
I need someone to walk beside me
on this troubled path,
which, in science, has a fancy name.
XIX
Now I’m an interdisciplinary thinker,
hold a chair at the Academy of Uncertainty.
I’m that son-of-a-bitch
who looks where nothing is—
what’s missing in learned secular science.
Einstein left us that pearl—
I dare to patch and relativize.
The road’s been lighter
since I began to Spinozize
with the natural powers that cross through me.
In Baruch I found
a defender of clumsy grace.
Audacity may be
another name for freedom.
XX
Or you may call it happiness.
I find myself exiled
near the Equator Line—
in Natal, laying my sorrows to dry
while my joys flutter,
carried by the Alísios winds.
There’s nowhere left to return to.
The Earth is my home.
Its story is my story.
This Christmas, I’ll revisit Brasília—
as if for the very first time.
I
Cadeira 11, apertem os cintos
Os cinco sentidos:
Lá vou eu, mundo grande
na saga nem sempre iluminada
da luta pela liberdade
Beijos pai, beijos mãe
As rodas do ônibus querem partir
Brasília é um grande teatro
Mas eu quero conhecer os roteiristas
Quero ver o ensaio dos atores
II
Quem dirige este espetáculo?
Estou pronto para a exploração
Outros tantos Brasis esperando
O meu olhar carinhoso
No nosso português cabem tantos
portugueses e sotaques
Indígenas, negros e mamelucos
Sigo pela América do Sul
No rastro dos nossos ancestrais
Ninguem vai me dizer que sim
III
Pois eu vou dizer que não
Se pisa nos sonhos de ninguèm
A república dos estudantes
foi fundade e a notícia corre
Pelo mundo para não restar dúvida
Comecem a contagem regressiva
O pequeno mundo das ideias ingênuas
Que nascem de brincadeiras sérias
Vai traçar versos nos territórios
Das cidades ansiosas pelo nosso cantar
IV
E por que não sabiam que era impossível
aqueles velhos loucos jovens
Foram lá para transver a verdade
Nem que seja por um instante
Mesmo que dos muros altos
Nos vejam tão pequenos
É possível plantar a semente do sonho
Escondida em meio ao burburinho
Desarpercedida e infantil
Para depois acompanhar-la
V
Mesmo de longe
Dando sombra e o doce frutal
Ainda o choro da desconstrução
O rebrotar mais adiante
Nada mais forte do que a vontade
Que a necessidade que insistentemente
Precisa voltar ao seu leito natural
Enquanto isso vou desconhecer
A América
Dos filmes, das idéias de liberdade
VI
Vou reconhecer essa raíz forte?
Que porções mágicas ela faz?
América, que mulher eres tu
Que me olha com olhos hipnóticos
Eu não tenho dinheiro
mas mãos ligeiras e armadas nos pés
Que império é esse feito de dólares?
Meu corpo é de café, berimbau e poemas
De Leminisky, Quintana e Manoel de Barros
VII
Tim-Tom-Tim
How are you doing?
Has it going?
Me sorri o irmão do norte com
dente de ouro e olhos marejados
América, mulher de braços longos
Me leva para ver o mundo
Agora já sei soletrar o dialeto anglo-saxão
Deixa me ver o que tens plantado
Ali na Africa, acolá na Sulamerica
VIII
Mais ao oriente entre o Cairo
e Jerusalem onde até os santos duvidam
O que tens semeado América?
Atravessando os altiplanos
O lago Titicaca parece que vai secar?
Tem muito carbono no ar?
Estamos sufocando América
O Car Culture agora é elétrico!
Lembre-se de como é bela a Sulamérica
A dos Andes, a da Selva e a dos Cerrados
IX
Aqui é o novo mundo
Todos os povos do globo chegam aqui
com suas ferramentas e artimanhas
Te covido para um Café Tortoni
Depois vamos ao Lamas no Flamengo
A noite te encontro em Brasília no Beirute
Que hoje à noite tem salsa em Bogotá
Tem depois Ayuaska para ver mas allá
Por que Jorge Luís Borges voltou para a Europa?
É preciso aprender o que é
X
Para errar aquilo que não é
Escavando por detrás dos azulejos azuis
de Lisboa, Sintra e Tomar
Descobrir os traços dos Tartessos
Em Lixbona, em Ulixibona
Dos tempos imemorias reconhecer
A ancestralidade do novo
Retornar com tanto a dizer aos patrícios
Tanto que contar do mundo
Não encontrar ouvidos ávidos
XI
O olhar de seca pimenteira
do amigo, o companheiro dos sonhos
Voltar com olhos transformados
para ver o que é preciso mudar
O ostracismo é semente amarga
Que crescia no meu quintal
Vou regá-la
Vou levá-la comigo aonde for
Ainda ha muito a (se) transformar
Revoada de passáros azuis
XII
Me levam para Copacabana
Aonde os Tupinanbás
Me ensinaram a replantar a alegria
Entre o mar e a montanha
na pequena faixa de terra
plantar sorrisos e celebrar
Beber a água fresca da esperança
Que parece mate com limão na praia
Tão verde quase azulada
como as águas de Ipanema
XIII
Vamos retornar ao coração da Pachamama?
Para no vale sagrado ler o futuro do mundo
Um dia todos vão louvar novamente
A mãe dessas terras
Do vale Sagrado as nascentes do Amazonas
Descansar em Machu Pichu
Nos aposentos de verão do imperador
De um lado os avós e avôs nevados dos Andes
Do outro o imenso vale amazônico a convidar
Quando a América vai despertar?
XIV
É hora de voltar para casa
Mas aonde fica minha casa
Tantas portas se abriram e fecharam
Que não sei mais aonde pousar
Quando cada canto do mundo é lar
Não reconheço meu pai nem minha mãe
Nossos sonhos comuns se perderam
Me tornei o filho pródigo
Que volta para um vazio familiar
XV
Recolher os cacos, os trapos, as marcas
busco em mim quem não existe mais
Voltar de mãos abanando
Para colocar mãos a obra
Onde os silêncios iluminam
Brasília parou no tempo?
Ou foi a metamorfose em mim?
Que acelerou a minha coragem
Para dizer o que esta fora de lugar
Como ousas dize-lo pequeno viajante
XVI
Quem pensas que é?
Um Edgar Morin com o rosto acobreado
Queimado do sol tropical?
Com cara de filósofo ou de louco
Os pequenos milagres me visitam
Retorno a Amazônia com olhos treinados
encharcados de poesia
para transver os mistérios da mata
Aos pouco me tornei fluente naquilo
que pode ser lido no silêncio da natureza
XVII
Caminho por Brasília como o último
sobrevivente de um sulamerica de sonho
Vislumbrei o mundo novo
E caminho por entre destroços
Trabalho aqui e acolá
Sou um pesquisador de restos e rastros
Naufrágios e entulhos que ninguem quer
Ouso querer ser especialista no erro
Na crise, no desencontro, na falta
Até que no meio do nada encontre
XVIII
O fio da meada desgarrada
Nove fora uma boa solução
Que resolveria ojalá
nossa falta de sonhos
Acho que tenho talento para criar
cenas rápidas de um futuro-presente
Só falta combinar com os Russos
Preciso de alguém para caminhar
Junto esse caminho perturbado
Que na ciência tem nome sofisticado
XIX
Agora sou um pensador interdisciplinar
Tenho cadeira na academia dos sem certeza
Sou aquele filha-da-puta que olha o que não há
O que falta na douta ciência secular
A perola que Einstein nos deixou de herança
Eu ouso colocar remendo e relativizar
A caminhada tem sido mais leve
desde que comecei a Spinosar
Com as potências naturais que me atravessam
Ganhei em Baruch o defensor dessa falta de jeito
A audacia pode ser o outro nome da liberdade
XX
Mas pode chamá-la de felicidade
Encontro-me exilado perto da linha do Ecuador
Em Natal, coloco meus prantos para secar
Enquanto minhas alegrias esvoaçam
atravessadas pelos ventos alísios
Não tenho para onde voltar
A Terra é minha casa
Sua história é minha história
Neste Natal, eu vou revisitar Brasília
Como se fosse a primeira vez
Audaz
Asiento 11, ajústense los cinturones
Los cinco sentidos:
Allá voy, mundo grande
en la saga no siempre iluminada
de la lucha por la libertad
Besos papá, besos mamá
Las ruedas del autobús quieren partir
Brasilia es un gran teatro
Pero yo quiero conocer a los guionistas
Quiero ver el ensayo de los artistas
II
¿Quién dirige este espectáculo?
Estoy listo para la exploración
Otros tantos Brasiles aguardan
Mi mirada cariñosa
En nuestro portugués caben tantos
portugueses y acentos
Indígenas, negros y mestizos
Sigo por América del Sur
En el rastro de nuestros ancestros
Nadie va a decirme que sí
III
Pues yo voy a decir que no
Si pisa en los sueños de nadie
La república de los estudiantes
fue fundada y la noticia corre
Por el mundo para no quedar duda
Comiencen la cuenta regresiva
El pequeño mundo de las ideas ingenuas
Que nacen de bromas serias
Va a trazar versos en los territorios
De las ciudades ansiosas por nuestro canto
IV
¿Y por qué no sabían que era imposible
aquellos viejos locos jóvenes?
Fueron allá para transver la verdad
Aunque sea por un instante
Aunque desde los muros altos
Nos vean tan pequeños
Es posible plantar la semilla del sueño
Escondida en medio del bullicio
Desapercibida e infantil
Para después acompañarla
V
Aun de lejos
Dando sombra y el dulce frutal
Aún el llanto de la deconstrucción
El rebrotar más adelante
Nada más fuerte que la voluntad
Que la necesidad que insistentemente
Necesita volver a su lecho natural
Mientras tanto voy a desconocer
La América
De las películas, de las ideas de libertad
VI
¿Voy a reconocer esa raíz fuerte?
¿Qué porciones mágicas ella hace?
América, qué mujer eres tú
Que me mira con ojos hipnóticos
Yo no tengo dinero
pero sí manos ligeras y armadas en los pies
¿Qué imperio es ese hecho de dólares?
Mi cuerpo es de café, berimbau y poemas
De Leminski, Quintana y Manoel de Barros
VII
Tim-Tom-Tim
How are you doing?
Has it going?
Me sonríe el hermano del norte
Con diente de oro y ojos vidriosos
América, mujer de brazos largos
Llévame a ver el mundo
Ahora ya sé deletrear el dialecto anglosajón
Déjame ver lo que has plantado
Allá en África, más acá en Suramérica
VIII
Más al oriente entre El Cairo
y Jerusalén donde hasta los santos dudan
¿Qué has sembrado, América?
Atravesando los altiplanos
¿El lago Titicaca parece que va a secar?
¿Hay mucho carbono en el aire?
Estamos sofocando, América
¡El Car Culture ahora es eléctrico!
No olvides qué bella es Suramérica!
La de los Andes, la de la Selva y la de los Cerrados
IX
Aquí es el mundo nuevo
Donde vienen a parar todos los pueblos del globo
con sus herramientas y artimañas
Te invito a un Café Tortoni
Después vamos a Lamas en Flamengo
En la noche te encuentro en Brasilia en el Beirute
Que esta noche hay salsa en Bogotá
Luego hay Ayahuasca para ver más allá
¿Por qué Jorge Luis Borges volvió a Europa?
Es preciso aprender lo que es
X
Para errar aquello que no es
Escavando por detrás de los azulejos azules
de Lisboa, Sintra y Tomar
Descubrir los rasgos de los Tartessos
En Lixbona, en Ulixibona
De los tiempos inmemoriales reconocer
La ancestralidad de lo nuevo
Volver con tanto que decir a los compatriotas
Tanto que contar del mundo
No encontrar oídos ávidos
XI
La mirada de seca pimentera
del amigo, el compañero de los sueños
Volver con ojos transformados
para ver lo que es preciso cambiar
El ostracismo es semilla amarga
Que crecía en mi patio
Voy a regarla
Voy a llevarla conmigo a donde vaya
Aún hay mucho por transformarse
Revuelo de pájaros azules
XII
Me llevan a Copacabana
Donde los Tupinambás
Me enseñaron a replantar la alegría
Entre el mar y la montaña
en la pequeña franja de tierra
plantar sonrisas y celebrar
Beber el agua fresca de la esperanza
Que parece mate con limón en la playa
Tan verde casi azulada
como las aguas de Ipanema
XIII
¿Vamos a retornar al corazón de la Pachamama?
Para en el valle sagrado leer el futuro del mundo
Un día todos van a alabar nuevamente
A la madre de estas tierras
Del Valle Sagrado a los nacimientos del Amazonas
Descansar en Machu Picchu
En las habitaciones de verano del emperador
De un lado los abuelos y abuelas nevados de los Andes
Del otro el inmenso valle amazónico que invita
¿Cuándo va a despertar América?
XIV
Es hora de volver a casa
Pero ¿dónde queda mi casa?
Tantas puertas se abrieron y cerraron
Que ya no sé dónde posarme
Cuando cada rincón del mundo es hogar
No reconozco a mi padre ni a mi madre
Nuestros sueños comunes se perdieron
Me convertí en el hijo pródigo
Que vuelve a un vacío familiar
XV
Recoger los pedazos, los trapos, las marcas
busco en mí a quien ya no existe
Volver con las manos vacías
Para poner manos a la obra
Donde los silencios iluminan
¿Brasilia se paró en el tiempo?
¿O fue la metamorfosis en mí?
Que aceleró mi coraje
Para decir lo que está fuera de lugar
¿Cómo osas decirlo, pequeño viajante?
XVI
¿Quién crees que es?
¿Un Edgar Morin con el rostro cobrizo
Quemado del sol tropical?
¿Con cara de filósofo o de loco?
Los pequeños milagros me visitan
Retorno al Amazonas con ojos entrenados
empapados de poesía
para transver los misterios de la selva
Poco a poco me volví fluente en aquello
que puede leerse en el silencio de la naturaleza
XVII
Camino por Brasilia como el último
sobreviviente de una Suramérica de sueño
Vislumbré el mundo nuevo
Y camino entre destrozos
Trabajo aquí y allá
Soy un investigador de restos y rastros
Naufragios y escombros que nadie quiere
Me atrevo a querer ser especialista en el error
En la crisis, en el desencuentro, en la falta
Hasta que en medio de la nada encuentre
XVIII
El hilo de la madeja desenredada
Prueba de nueve fuera una buena solución
Que resolvería ojalá
nuestra falta de sueños
Creo que tengo talento para crear
cenas rapidas de un futuro mejor
Solo falta combinar con los Rusos
Necesito a alguien para caminar
Junto este camino perturbado
Que en la ciencia tiene nombre sofisticado
XIX
Ahora soy un pensador interdisciplinar
Tengo asiento en la academia de los sin certeza
Soy aquel hijo-de-puta que mira lo que no hay
Lo que falta en la docta ciencia secular
La perla que Einstein nos dejó de herencia
Yo me atrevo a poner remendo y a relativizar
La caminata ha sido más ligera
desde que empecé a Espinosar
Con las potencias naturales que me atraviesan
Gané en Baruch al defensor de este desatino
La audacia puede ser el otro nombre de la libertad
XX
Pero puedes llamarla felicidad
Me encuentro exiliado cerca de la línea del Ecuador
En Natal, pongo mis llantos para secar
Mientras mis alegrías revolotean
atravesadas por los vientos alisios
No tengo a dónde volver
La Tierra es mi casa
Su historia es mi historia
En esta navidad, voy a revisitar Brasilia
Como si fuera la primera vez.
O Anu Preto pousou em um verso para ver o mar Admirado engoliu o mar as ondas e as nuvens também Evaporou-se alegre de tanto azul