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sábado, 27 de setembro de 2025

De Brasília aos Pirineus

A solidão gira em falso 

Da pesada marcha encaixa a leve

Acelera e cansa cruza 

A corrente de ar empurra na descida

A pedalada dos dias olha de lado

A beleza perseguida  

"Fica próximo dos Pirineus"

Disse o tropeiro em lingua Nhengatu

É do outro lado da busca

Do lado de dentro 

Da distância percorrida

Onde se perdeu 

A expedição de Ferdinand Cruls

Na busca da cidade encantada

Onde vai jorrar leite e mel

Desde os sonhos do santo

Até as agrúrias da política


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Praia de Ponta Negra

Corri pela praia de Ponta Negra

em busca do amor que o vento oferece 

ao Morro do Careca

Amor do jeito de

ondas quebrando na areia


intensas e além do romantismo

Corri pela praia de Ponta Negra

atrás de uma fuga de Debussy

Sonhando com a Ponta Negra

mas a praia agora é outra onda


O Careca lá do alto solta 

um suspiro arenoso 

Corri pela praia de Ponta Negra

engordada de ganância  

encharcada de descaso


em busca da felicidade 

ali presente, disponível ainda

explosão natural e imanente

Corri por mim

corri do erro meu e dos outros


corri da ilusão de ficar ao sol

Minhas lágrimas salobras um dia

encontrarão o mar 

ombro amigo para desaguar

Corri pela praia de Ponta Negra


o que em mim é maré

um dia será lua

cheia, eterna e luminosa

fulgaz e passageira

da praia de Ponta Negra


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Âncoras ao Mar


Âncoras ao mar

Botes na água

Seis caravelas de Lisboa

deslizam pelas correntes marinhas

Avistam o Pico do Cabugi

Aportam na praia de Ponta Negra

Era o ano de 1495 


As crianças potiguaras brincam na praia

Aqueles estranhos seres 

de pesadas vestimentas aproximam-se

Os outros estão nas roças

O Morro do Careca observa a cena

Setembro, sete da manhã

Essas crianças vão se tornar pais e mães


Anciãos e anciãs

Ancestrais de tantas outras crianças

que continuarão a lutar

pela liberdade 

no corpo e na alma indígenas

Uma busca silenciada mas audível

inadiável e essencial



domingo, 21 de setembro de 2025

Escorpião me Mordeu (Corrido)

Escorpião me mordeu

Mas foi ele quem morreu 

Escorpião perdeu no jogo

Antes ele do que eu


Escorpião bicho danado

Mas que bicho enganador

No jogo da capoeira

Cada um tem seu valor


Escorpião me mordeu

Mas foi ele quem morreu 

Escorpião perdou no jogo

Antes ele do que eu


Escorpião entrou na roda

E mostrou o seu ferrão

Eu entrei com a capoeira

Jogo com meu coração


Escorpião me mordeu

Mas foi ele quem morreu 

Escorpião perdou no jogo

Antes ele do que eu





Marinheiro de Angola (Ladainha)

Marinheiro foi para o mar

Marinheiro foi para o mar


Encontrei com o marinheiro

Sentadinho na esquina

Noite alta na cidade

Com o gorrinho de listrinhas


Perguntei ao marinheiro

O segredo da Capoeira

Ele então me olhou nos olhos

Com um sorriso respondeu


Para ser bom na capoeira

é preciso enfrentar

A maior roda do mundo

Vem aqui vou te mostrar


Essa roda é sua vida

Maestria é seu viver

Lute pela liberdade

Pra o seu povo e para você


Camaradinha,

Maior é deus!

Ieh! maior é Deus

Camará!

Capoeira é Terra Boa (Ladainha)

Hoje, eu canto com tristeza

Hoje, eu canto com tristeza


Que calou meu berimbau

Silenciou o atabaque

A todos fez muito mal

Ja falei para tanta gente


Ninguem quis me acreditar

No jogo da capoeira

Não se entra pra brigar

Capoeira é terra boa


Quero ver você plantar

Nasce cabaça, nasce biriba

Nasce o que eu não queria

A maldade e a violência


A inveja e a covardia

Esse jogo é uma arte

Uma luz que alumia

Que beleza a liberdade


Não tem preço a alegria

Quando eu jogo estou sonhando

Quando acordo é outro dia

Ieh! Maior é Deus!

Capoeira Salva (Corrido: Osmar e Andrea)

Salve capoeira, capoeira salva!

Salve, salve, Salvador! (2x)


Escapei da dor

A Capoeira me salvou

Valei-me Deus!

O mal não me tocou! (2x)


Salve capoeira, capoeira salva!

Salve, salve, Salvador! (2x)


Aú bem dado

feito com mandinga

Desfaz o mal

Protege o jogador (2x)


Salve capoeira, capoeira salva!

Salve, salve, Salvador! (2x)

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Mestre Noronha (Ladainha)

Vou contar

História boa eu vou contar

Acredite quem quiser


Viva o mestre Noronha

Aquele noite me encontrou

Foi entrando no meu sonho


E com os olhos me falou

Capoeira é manhosa

No céu ela é jogada


Arte toda brasileira

Pelos falecidos camarados

Seu Noronha virou estrela


E veio me visitar

Chegou todo prateado

No sorriso revelou


Que encontrou no outro mundo

Tudo que aqui buscou

A beleza e a liberdade


A sabedoria e o amor

Ieh! Maior é Deus

Ieh! maior é Deus, camará!



quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Felinos Felizes

Eu te amo

como se fosse o primeiro dia que nos vimos

naquele entre-portas

A loira da gilette de olhos azuis

retornou das profundezas de meus sonhos

mestiços

Quero continuar te amando

assistindo 50 filmes por ano

em Brasília

Quero seguir amando no Beirute

Quero para sempre estar chegando

no aeroporto com nossos felinos felizes

Seguir amando seu corpo na dança

ou em Lisboa

Quero sonhar com reencarnações passadas

para estar exatmente ali 

onde a Argentina encontra o Uruguay

Quero te amar no Café Tortoni

Nos infinitos anos da pandemia de medo

exílados com nossos felizes felinos

Eu quero, eu quero

continuar querendo você

até que decidas o que vai fazer de sua vida

pois a nossa é massa mas

o dia nasce buscando novidades

Abre alas que eu quero passar contigo

comigo sem medo consigo 

eu sigo acreditando


Destagramável

Você ai que parou

no meu instagram

no meu facebook

no meu chapéu

Você vai me detestar


Isso aqui foi o que sobrou de mim

depois de virar suco e photography

Eu não sou isso ou aquilo

São apenas hieroglifos

rupestres sentidos perdidos


Eu não sou isso

Sou destagramável

pobre diabo sem likes

Eu não sou o que sou 

depois de ser esmagado pelas pedras


pontiagudas dos algoritmos 

Que pena que eu não sou o outro

Não sou você sem roupa

Sou detestável e sem corpo

Sou o outro de calção


Camiseta furada chupando

picolé de brigadeiro

enquanto volto para casa

realizado

Eu sou o vomito de Arak


pela união de todos árabes e budistas

Eu sou o peba do basquete

Não sei jogar baralho

Sou aquele que tem um medo danado

de quem sou


Sou destagramável

Não se demore

saia da minha aba

vá buscar a sua turma

deixe minha lápide iluminada


em paz no escuro

Vai tomar

Vai brincar

Vai se 

sentir no seu jardim

De Brasília aos Pirineus

A solidão gira em falso  Da pesada marcha encaixa a leve Acelera e cansa cruza  A corrente de ar empurra na descida A pedalada dos dias olha...